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Voluntários do novo programa de compostagem de Nova York
Voluntários do novo programa de compostagem de Nova York

Recipientes específicos, uma frota de caminhões adaptados e pátios de compostagem. Esse é o trio que promete mudar parte do cenário novaiorquino a partir de março de 2023. Começando pelo Queens, bairro que já possui um programa piloto, a prefeitura de Nova York, nos EUA, divulgou um planejamento para que, até o final de 2024, todos os moradores da cidade -- 8,5 milhões de pessoas -- tenham acesso a uma iniciativa municipal de coleta e destinação de restos de comida, folhas e galhos. 

O cronograma prevê que o projeto chegue ao Brooklyn em 2 de outubro de 2023, ao Bronx e Staten Island em 25 de março de 2024 e a Manhattan em 7 de outubro do ano que vem.

Os primeiros detalhes foram apresentados pelo prefeito Eric Adams em seu discurso anual State of the City, ou "O estado da cidade", que este ano aconteceu no Flushing Meadows Corona Park, no Queens. O bairro recebe desde outubro de 2022 um programa piloto que foi pausado durante o inverno do hemisfério norte, mas que em pouco tempo ganhou popularidade e muitos adeptos. Em apenas três meses, quase 6 mil toneladas foram coletadas, informou o prefeito no discurso. Durante o pico da temporada de queda de folhas das árvores, em meados de novembro, quase 1,6 mil toneladas de material orgânico foram retirados das calçadas em apenas duas semanas.

A escolha do bairro para os testes iniciais se deu por conta da diversidade de comunidades que moram por lá, por ser o maior bairro da cidade e por abrigar uma variedade de vizinhanças historicamente mal atendidas pelos serviços municipais e que sofrem as consequências da injustiça ambiental, diz a prefeitura. Para participar, não foi preciso fazer nenhum tipo de inscrição. Bastava colocar os resíduos em uma lixeira que foi oferecida pela prefeitura para os endereços residenciais com 10 ou mais unidades. Para casas e prédios menores, foi possível usar uma lixeira própria, desde que ela estivesse devidamente rotulada e fechada, para evitar a entrada de ratos e outros animais. A prefeitura fornece adesivos para etiquetar esses coletores e deixar claro para todos que tipos de resíduos podem ser depositados ali.

Adesivo disponibilizado pela prefeitura de Nova York para etiquetar lixeiras informa que tipo de resíduo pode ser depositado nos recipientes para compostáveis: restos de comida, folhas e galhos e papel de algumas embalagens.
Adesivo disponibilizado pela prefeitura de Nova York para etiquetar lixeiras informa que tipo de resíduo pode ser depositado nos recipientes para compostáveis: restos de comida, folhas e galhos e papel de algumas embalagens.

Com o fim da estação mais fria do ano, o então programa piloto será retomado de maneira definitiva no bairro em 27 de março e, a partir de outubro, expandido gradativamente até alcançar todas regiões de Nova York. Pelo menos durante essa fase de implementação e adaptação, prevista para durar até o final de 2024, separar ou não seus resíduos compostáveis será um ato voluntário, e não obrigatório. E, para facilitar, a coleta será programada para o mesmo dia que passa o caminhão que leva os recicláveis secos (plástico, vidro, metal e papel). “Este programa representará a primeira vez que muitos nova-iorquinos terão em suas calçadas acesso à compostagem. Deixe que eles se acostumem", afirmou ao New York Times Jessica Tisch, que é comissária do Departamento de Saneamento da cidade.

No ano fiscal de 2026, o primeiro depois que a iniciativa estiver operacional em toda a cidade, o custo total previsto é de US$ 22,5 milhões. Há também um planejamento de orçamento de US$ 45 milhões para comprar novos caminhões para a tarefa.

O atual prefeito da cidade, que está entrando no segundo ano de mandato, vem pautando sua administração em ações de combate ao crime, nos desafios orçamentários de NY e na limpeza das ruas, com um foco incomum, e alguns diriam até pessoal, na eliminação de ratos. Adams conta que, quando era criança, sua família enfrentou sérios problemas para se livrar dos ratos na casa em que morava e que os roedores eram tantos que ele e seus irmãos até adotaram um como animal de estimação. Hoje em dia, os ratos seguem fazendo parte de sua vida pessoal. O departamento de saúde da cidade já emitiu diversas intimações para o prefeito por falha em lidar com uma infestação na casa onde vive atualmente e, recentemente, seu governo anunciou que contrataria um "diretor de mitigação de roedores" com “o impulso, a determinação e o instinto assassino necessários para combater o verdadeiro inimigo: a implacável população de ratos de Nova York”.

Rapidamente o novo posto ganhou o curioso apelido de Rat Czar, ou czar dos ratos, em uma referência aos antigos monarcas do Império Russo. Ao falar sobre o novo programa municipal de coleta domiciliar, Adams mencionou mais uma vez os roedores que parecem não lhe dar um dia de descanso e disse que "ao lançar o maior programa de compostagem do país, estaremos desferindo um golpe nos ratos da cidade, limpando nossas ruas e mantendo milhões de quilos de resíduos de cozinha e dos quintal fora dos aterros sanitários”.

A cada ano, os trabalhadores do saneamento de NY recolhem cerca de 3,4 milhões de toneladas de resíduos residenciais e cerca de um terço deste total poderia ser compostado, afirma a prefeitura. Um dos benefícios de realizar este processo natural, além de gerar um material rico em nutrientes que pode ser usado na adubação das plantas e, não podemos esquecer, ajudar a controlar a população de ratos, é evitar que estas toneladas de resíduos sejam encaminhadas para aterros sanitários. Lá, elas produzem metano, um dos gases de efeito estufa que agravam o aquecimento global e promovem as mudanças climáticas.

A ideia de implementar um programa público de compostagem na cidade de Nova York já passou por muitos altos e baixos ao longo dos anos. Há quase uma década, o ex-prefeito Michael Bloomberg usou uma frase de “Star Trek” para declarar a compostagem a “fronteira final da reciclagem”. Dois anos depois, o então prefeito Bill de Blasio prometeu que todos os resíduos residenciais do município seriam compostados, reaproveitados ou reciclados até 2030. Segundo a comissária Tisch, a cidade não fez progresso suficiente até hoje para que se possa “acreditar realisticamente" que chegará a um nível lixo zero até 2030, mas o novo programa promete acelerar esse processo e ser um divisor de águas para a cidade

Para a vereadora Sandy Nurse, que preside o Comitê de Saneamento e Gestão de Resíduos Sólidos de Nova York, a participação no programa municipal de compostagem deveria ser obrigatória, e não opcional. Em comunicado conjunto divulgado com sua colega Shahana Hanif, ela afirma que a obrigatoriedade têm sido “essencial para o sucesso em outros cidades." No texto, as duas dizem que estão comprometidas em transformar o programa em lei ainda este ano para garantir que ele permaneça em vigor, seja totalmente financiado e não possa ser revertido”. Já a presidente da New York League of Conservation Voters, Julie Tighe, classificou a iniciativa como “um grande passo para alcançar o lixo zero” e disse que "fazer este programa em toda a cidade significa menos gases de efeito estufa escapando para a atmosfera e menos lixo nas ruas – uma boa notícia para o meio ambiente, mas uma má notícia para os ratos".

Hoje, a cidade exige que muitas empresas separem seus resíduos orgânicos, embora não esteja claro com que eficácia a cidade aplica essas regras. A cidade disse que não coleta dados sobre quanto lixo o programa desvia dos aterros.

A cidade também já estava oferecendo compostagem municipal voluntária em partes dispersas do Brooklyn, Bronx e Manhattan quando Adams anunciou em agosto que chegaria a todas as residências do Queens naquele mês de outubro.

Fonte:

Sabrina Neumann
Um Só Planeta

 

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