Todo conhecimento deve ser aperfeiçoado para se alcançar uma melhor qualidade de vida. Segundo Maturana(1998) o verdadeiro conhecimento não leva ao controle ou à tentativa de controle, mas leva ao entendimento, à compreensão, a uma harmônica e ajustada aos outros e ao meio.
O campo da ciência e da tecnologia, das ciências sociais e humanas devem sempre progredir, mas a fim de garantir a qualidade, é preciso também se construir valores. A sabedoria consiste, exatamente, na íntima aliança entre conhecimentos e valores.
A Universidade deve assumir uma responsabilidade essencial na preparação das novas gerações para um futuro viável. Pela reflexão e por seus trabalhos de pesquisa básica, esses estabelecimentos devem não somente advertir, ou mesmo dar o alarme, mas também conceber soluções racionais.
Para Kraemer (2004) devem tomar a iniciativa e indicar possíveis alternativas, elaborando esquemas coerentes para o futuro, fazendo com que se tome consciência maior dos problemas e das soluções. Os trabalhos desenvolvidos dentro das instituições de ensino de nível superior têm um efeito multiplicador, pois cada estudante, convencido das boas ideias da sustentabilidade, influencie o conjunto, a sociedade, nas mais variadas áreas de atuação (Kraemer, 2004).
Todos os estabelecimentos de ensino superior estão conscientes do papel que devem cumprir na preparação das novas gerações para um futuro viável. As universidades envolvidas partilham a convicção de que o progresso econômico e a proteção ambiental estão indissoluvelmente ligados.
Para Kornhauser (2001), a educação é o centro da construção do desenvolvimento humano sustentável. É preciso elaborar estratégias e programas de educação relacionados com o ambiente, que abranjam tanto o ensino escolar como a educação informal, que adotem a perspectiva da educação permanente a ser desenvolvida pelos poderes públicos, o setor produtivo, o comércio e as comunidades locais.
Nas universidades o desafio do desenvolvimento sustentável encontra o caminho a ser liderado, porque a sua função é o ensino e a formação de cidadãos mais habilitados para a tomada de decisão, sendo rica a sua experiência na promoção de conhecimento, lhe imprimindo um papel essencial segundo Kraemer (2004).
A Organização das Nações Unidas (ONU) deu os primeiros sinais às universidades quanto ao seu papel no caminho global para o desenvolvimento sustentável.
Os documentos associados às Conferências em Desenvolvimento Humano em 1972 e em Ambiente e Desenvolvimento – UNCED em 1999 explicitam objetivos e medidas dirigidas às instituições de ensino superior (quadro 1).
Documento | Objetivos | Medidas Recomendadas |
UNCHD (1972) Declaração de Estocolmo (Princípios 9 e 24) |
Prever e/ou minorar aspectos contrários ao desenvolvimento sustentável. | Formulação de acordos multi- ou bilaterais ou de outras formas de cooperação (nomeadamente em transferência tecnológica). |
UNCED (1991) Relatório do Comitê Preparatório |
Envolver todos na educação para o desenvolvimento sustentável. | Intercâmbio de conhecimento científico e tecnológico. Desenvolvimento, adaptação, difusão e transferência de tecnologias, incluindo as novas e inovativas. |
UNCED (1992) Agenda 21 (Capítulos 31, 34, 35 e 36). |
Clarificar o papel da ciência e tecnologia no desenvolvimento sustentável. | (Re)desenho dos programas nacionais em Ciência e Tecnologia por forma a clarificar contribuições do setor para o desenvolvimento sustentável e identificar funções/ responsabilidades do sector no desenvolvimento humano. |
Gerar e disseminar conhecimento e informação em desenvolvimento sustentável. | Produção de avaliações científicas de longo prazo sobre depleção dos recursos, uso da energia, impactos na saúde e tendências demográficas, e tornar públicas em formas amplamente compreendidas. | |
Educar todos para o desenvolvimento sustentável. | Desenvolvimento de programas de educação em ambiente e desenvolvimento (acessível a pessoas de todas as idades). Incentivos dos países às universidades e a redes de trabalho neste âmbito. |
Quadro I – A ONU e as universidades no âmbito do Desenvolvimento Sustentável (1972-1992) Fonte: http: www.campus.unl.pt
As universidades estão cada vez mais conscientes do papel que têm a desempenhar para preparar as novas gerações para um futuro viável.
Nos anos 80, com a publicação do Relatório Brandtland e também da cúpula “Planeta Terra” do Rio, as universidades se esforçaram para definir e ao mesmo tempo assumir seu papel no que se refere ao ensino para um futuro viável.
Segundo Kraemer (2004) com essa finalidade, em diferentes períodos e lugares, as universidades propuseram e adotaram declarações ambiciosas, onde apareciam os grandes princípios e objetivos do processo de reforma que estavam prontos a adotar para a sustentabilidade, destacando-se:
- Declaração de Talloires – em outubro de 1990, vinte presidentes de universidades, os reitores e pró-reitores das universidades de todas as regiões do mundo mostraram seus interesses sobre a velocidade crescente da poluição e da degradação ambientais e a depleção de recursos naturais. Esta declaração foi assinada no Centro Europeu da Universidade de Tufts, Talloires, França.
- Declaração de Halifax – um ano mais tarde, em dezembro de 1991, em Halifax – Canadá, os representantes sêniores da IAU – Associação Internacional das Universidades, da Universidade Unida das Nações e da Associação das Universidades e Faculdades do Canadá, juntaram-se com 20 presidentes das universidades das várias partes do mundo para discutir as ações a todas as universidades em prol da sustentabilidade.
- Declaração de Swansea – em agosto de 1993, na conclusão da conferência quinquenial das Universidades da Comunidade (ACU), os participantes expressaram a opinião de que as soluções aos problemas ambientais seriam eficazes se tivessem a participação de toda a sociedade na busca da sustentabilidade.
- Acordos da Conferência da Terra – Até a Conferência do Rio (UNCED), as universidades praticamente estiveram fora do palco da discussão sobre o desenvolvimento sustentável. A experiência trouxe uma lição clara: as universidades não se devem esquivar ao desafio, pois de acordo com Associação Internacional das Universidades - IAU, 1993, se não nos envolvermos, se não usarmos as nossas forças combinadas para ajudar a resolver os problemas emergentes da nossa sociedade global, então seremos ignorados no despertar de um outro motor de mudança, uma outra agência ou estrutura que será convidada a promover a liderança. Agenda 21 local – capítulo 36 - promover a educação, a consciência pública e a formação. Área programática – reorientar a educação para o desenvolvimento sustentável - ONU, 1992.
- Declaração de Kyoto – promovida pela Associação Internacional das Universidades (IAU), sublinha a dimensão ética da educação para o desenvolvimento sustentável que, além de ensinar princípios, deve promover práticas igualmente sustentáveis. Na 9ª Mesa Redonda da IAU, que ocorreu em Kyoto (Japão) a 19 de novembro de 1993, cerca de 90 líderes universitários reuniram-se para discutir e adotar uma declaração de princípios, baseada nas declarações emanadas das conferências de Talloires (1990), Halifax (1991) e Swansea (1993).
- Carta Copernicus - A Carta Copernicus, chamada de Carta Patente da Universidade para o Desenvolvimento Sustentável, define os princípios de ação a serem adotados pelas universidades rumo ao desenvolvimento sustentável. O Programa Copernicus (Cooperation Program for Environmental Research in Nature and Industry through Coordinated University Studies) é um programa de cooperação européia para a pesquisa sobre a natureza e a indústria com os estudos coordenados da universidade e foi lançado pela Conferência dos Reitores da Europa (CRE) em 1988. Este programa é o principal agente regional em diálogo nesta matéria a nível internacional e trabalha em parceria com a Associação das Universidades Européias (EUA), o Instituto de Investigação para a Europa Sustentável (SERI), a Associação Ambiental das Universidades e Faculdades do Reino Unido (EAUC) e algumas universidades singularmente proativas em desenvolvimento sustentável no espaço europeu.
- Declaração dos estudantes para um futuro sustentável – organizado pelo CEED – Comunidade Ambiental de Desenvolvimento Educacional, esta Declaração ganhou respaldo no Reino Unido, na Universidade de Sunderland, com 80 pessoas de 34 universidades e faculdades britânicas nos dias 2 a 5 de julho de 1995. Foi discutida a responsabilidade ambiental dos estudantes na tentativa particular de moldar uma declaração abrangendo ações mais adicionais. Nessa época, os participantes da conferência desenvolveram guias para a ação, tendo como o começo de um acoplamento entre estudantes e as agendas ambientais institucionais e internacionais.
- Parceria Global do Ensino Superior para o Desenvolvimento Sustentável – GHESP – esta parceria foi formada em 2000 pela ULSE – University Leaders for a Sustainable Future - Universidade Líder para um Futuro Sustentável, Copernicus-campus, IAU - Associação Internacional das Universidades e UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, em resultado do programa de trabalho da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (CSD-UM) e antecipando a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (WSSD). Essa parceria teve como primeiro produto a Declaração de Luneburg em 10 de outubro de 2001. Esta Declaração é a instrução mais elevada para o desenvolvimento sustentável.
Diante de diferentes propostas e acordos entre as universidades motivadas por organizações e ações mundiais em prol da sustentabilidade, as universidades são chamadas a exercer um papel de liderança na promoção da educação que tenha por objetivo conceber o desenvolvimento do conhecimento para o desenvolvimento sustentável.
Desta forma, as universidades promovem investigação, paradigmas e valores que contribuem para a construção de uma sociedade sustentável, executando exemplos práticos de suas comunidades locais, coordenando assim uma interação entre o ambiente teórico com o prático da sociedade, buscando soluções, por meio da pesquisa, para o desenvolvimento sustentável.
Autor: Felipe Garcia
Especialista idealizador e criador do site Sustentabilidades.com.br
MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. Tradução de Fernando Campos Fortes. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.
KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira - A Universidade do Século XXI rumo ao Desenvolvimento Sustentável. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM) - v. 3, n. 2, nov./2004. Disponível em:http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/article/view/408
KORNHAUSER, A. Criar oportunidades. Educação um tesouro a descobrir. 6. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2001.
Fonte:
Felipe Garcia
Sustentabilidades